Desabafo

Pensei que não escreveria novamente para que outros pudessem conhecer meus fantasmas e vitórias.
Mas nada melhor que o tempo para mostrar que estamos certos ou errados.
E ao fazer tais descobertas se faz necessário o ajuste das velas, adaptar-se aos ventos e saborear o que a viagem tem a oferecer: sejam surpresas boas ou ruins.

O que me tras aqui é o fato de eu amar um adicto. Sim, o amo.
Quando nos conhecemos, há pouco mais de dois anos ele estava limpo, frequentávamos a igreja e eu realmente não imaginava como era a adicção. Era tudo lindo e perfeito até que em novembro de 2011 ele teve uma recaída. Sumiu por um dia, e eu que nunca tinha passado por aquilo movi meio mundo (literalmente, chegando ao ponto de pedir conhecidos das policias civil e militar para dar queixa de roubo de sua moto afim de encontra-lo) até constatar que o motivo do seu sumiço era um: a pedra.

Dia 26 de dezembro ele teve a segunda recaída do ano: dois dias sumido e eis que ele aparece. Um fantasma. Em nada lembrava o meu amado.
Foram 15 dias internado para desintoxicar, a família estava viajando então a barra foi mais pesada ainda. Minha mãe e irmão foram visita-lo. Eu fui todos os dias. Passei momentos de tensão dentro da clinica, ja que um interno "conhecido" de outras "visitas" queria ficar conosco no quarto durante meu período la dentro. O sujeito chegou a me cantar na frente do meu namorado, que por estar sob efeito dos remédios não percebeu o que se passava.

Não posso mudar o mundo, não posso muda-lo.
Juro que pensei em desistir. Mas como pensei que não aconteceria mais segui em frente...

Pois é, no último fim de semana aconteceu novamente.
Ele saiu de manhã de casa (aproveitou que o pai quando dorme apaga) e foi novamente buscar a pedra.
Só que desta vez ele não levou celular, nem saiu de tênis novo, não levou relógio... foi uma fuga programada.
Meu Deus, como é possível isso?
No domingo, quando chegou em casa ele me contou tudo o que fez... sim, ouvi coisas que jamais pensaria ouvir, com detalhes.. Uma cratera foi aberta no meu peito... Como é possível que dentro do meu amado viva um monstro como aquele? Senti nojo, não deixei que ele me tocasse, as cenas ainda se desenrolam na minha frente como um filme, um assombroso filme da vida real. Da vida que quero que esteja ao meu lado... Deus, porque, era só o que meu coração perguntava... Porque?

Queria gritar, correr, sumir, meter a mão na cara dele de um lado e do outro até que as forças existentes em mim acabassem...
Quando a onda passou ele veio conversar... Me chamou, contou, explicou...
EU categoricamente afirmei que ele é um cara abençoado. Ele graduou no ultimo dezembro, esta trabalhando, tem condições de começar uma pós agora no inicio do ano. Tem pais que podem ajuda-lo. Disse que vitima somos nós, que estamos a mercê dele. Foram tantas internações, desintoxicações.
Meu sogro não acredita na melhora dele. Acho que ele sempre espera por essas recaidas. Pra piorar, eu tenho mais intimidade com meu sogro do que ele, ou seja, algumas vezes ambos acabam disputando minha atenção quando estou na casa deles. É tenso, mas eu tento ser atenciosa com meu sogro, mas deixando claro que o meu namorado é o filho.

Acho que por hoje é só isso.. palavras ditas no calor do sentimento... sem nexo ou contexto. Prometo contar nossa historia direitinho nos próximos posts.
Estou exausta, cansada física e mentalmente.

Que Deus permita que minha fé na mudança e libertação dele continuem vivas...