Segunda em paz

E lá vem o resumão do final de semana:

Na sexta encontrei com ele depois do meu trabalho, e fomos direto para a casa dele. Eu estava morrendo de preguiça de ir a academia então achamos melhor descansar. Na verdade foi bom, porque começamos finalmente a colocar algumas coisas em ordem na nossa vida. Ele ainda não estava conversando com o pai e o climão fez parte do fim de semana. A primeira coisa que eu fiz foi dizer a ele que precisávamos conversar. Falei que sabia que o problema da adicção dele iria nos acompanhar vida a fora e que cabia a ele escolher estar no grupo dos ativos ou em recuperação. Falei também que não posso carregar essa cruz por ele, que já tenho as minhas. Admiti que não dá pra viver em função dele, mas sim ao lado dele. Disse sobre minha co-dependencia e que eu não quero mais ser assim, tão pouco viver assim. Questionei se está feliz comigo. Depois eu disse que li muito a respeito de relacionamentos com dependentes e queria que ele ouvisse um texto que encontrei e li o post (eu imprimi):

http://amandoumdependentequimico.blogspot.com.br/2012/04/voce-pode-sim-escolher.html

Mostrei a ele como é a realidade de uma esposa que não desistiu do marido, da família. Falei que não sou casada com ele, que não temos nada que nos prenda a não ser o sentimento que nos une. Questionei se ele consegue me ver com uma companheira, uma amiga, mulher, esposa e mãe dos filhos, e que se ele não visse assim era pra me dizer. Ele disse que sim, que conseguia. Eu falei que se ele em algum momento relutasse eu teria ido embora, para sempre da vida dele.

No sábado pela manhã namoramos e ele me chamou para sair: fomos olhar uns apartamentos para alugar. Ele quer que a gente vá morar juntos, mas eu já fui taxativa: só saio de casa CASADA. Não vou morar com ele, e isso eu sinto que é um grande problema: ele acha que o casamento despende gastos gigantes para um único dia. Mas como eu disse: é o meu sonho e não abro mão dele. Os pais dele tem condição de ajudar mas não ajudam. Na verdade o pai tem. Acho que ele tem medo de o filho meter os pés pelas mãos e isso é bom até certo ponto. No sábado a noite, ele contou para a mãe dele que tínhamos ido olhar apartamentos, e ela disse que deveríamos casar no civil e morar com um tio dele que é viúvo. (a história é a seguinte: surgiu por parte desse tio o interesse em vender o apartamento onde ele mora para a gente, só que o pai dele achou melhor não, pois teríamos que fazer uma partilha antes e seria um angu de caroço) ai nós falamos: sem chance, não queremos começar nossa vida a 3. Ela não gostou muito mas respeitou, mas disse ser contra nós morarmos de aluguel.
No sábado ficamos em casa, choveu demais da conta, muito mesmo. E como estávamos sem o carro não teve como sair.

No domingo tivemos uma conversa super séria: ele aprontou muita coisa nessa recaída e me contou. Eu disse que não sabia como lidar com o que ele me contou. Meu amado disse que realmente sabia que eu tinha todo o direito de nunca mais olhar na cara dele, de meter o pé na bunda dele mas que não entendia porque eu não fiz isso. Eu disse: o fato é o seguinte, perdão é obrigação, devemos perdoar para que sejamos perdoados por Deus, mas o fato de eu continuar com você após o ocorrido (não preciso nem falar o que é vocês já devem imaginar) é que você de cara limpa nunca me deu motivos para desconfiança. Acho que a droga trás a tona um lado seu que eu não conheço e é esse lado que me assusta. Disse que valia a pena seguir em frente, pois eu acredito que podemos dar certo, pois nestes dois anos juntos tivemos muitas alegrias, crescemos como pessoas e namorados. Falei também que, o fato de eu perdoar uma vez e continuar com ele não significa que se acontecer novamente eu tenha que continuar com ele. Falei que estou com ele não por falta de opção lá fora, e  sim porque eu o amo.

Ele disse que essa última recaída foi totalmente diferente das demais. Que a cabeça dele está uma bagunça, que ele se feriu demais, e me feriu também. Pediu perdão e para eu ao menos tentar entender o lado dele. Ele disse ser um homem privilegiado por me ter ao seu lado, falou também que aconteceu e ele não poderia mudar o passado, mas poderia fazer o presente melhor de tal maneira que isso seja refletido no nosso futuro. Aproveitei a oportunidade e orei por ele. Pedi mudança de pensamento, de palavras, atitudes. Sei que Deus muda situações, circunstancias e caráter. Só ele sabe o quanto dói quando penso no que ele me contou. Tá certo, ele poderia ter escondido de  mim o que aconteceu, não precisaria me dar detalhes, mas preferiu confiar e desabafar. Ai... vocês não tem ideia de como estou magoada, do nojo que me deu ao ouvir, nossa. Sinceramente não sei como mantive a calma e decidi continuar. Como disse, ele quando limpo é um ótimo namorado, faz de um tudo para me agradar, CLARO que tem seus momentos murrinha, mas quem não tem?

A noite fomos ao culto na igreja onde um pastor amigo dele congrega. Esse pastor ele conheceu na primeira internação e nos ligou para irmos lá ontem. O pastor que pregou falava sobre uma nova unção na vida das pessoas. Falou sobre darmos espaço para que o Espirito Santo trabalhe em nossa vida e desta maneira que sejamos cheios e levemos essa benção aos outros. AO final do culto teve um apelo onde eu o chamei para irmos lá na frente (estávamos a um tempão sem ir a igreja, acho que o lado espiritual deve estar bem alimentado para evitar que o homem carnal tome espaço) e quando começaram a orar por nós eu cai no choro. Sabe aquele choro que vem lá do fundo, lá da alma? Ele veio, me abraçou, minhas lagrimas rolavam descontroladamente por minha face. Molharam a blusa dele. Molharam o chão. Lavaram minha alma. Senti que Jesus pegava o peso tão grande que estava sobre meus ombros e me dava uma nova oportunidade, de ser uma cristã melhor, uma pessoa melhor. Aquelas palavras do culto foram para nós, graças a Deus por esse pastor ter nos convidado ontem.

Após o culto fomos lanchar com o pastor e sua família e descobri que fiz cursinho pré vestibular com a filha dele. Mundo pequeno. Falamos de casamento, de casa, de renovação espiritual. Foi uma noite gostosa.

Quando chegamos em casa tomamos um banho e fomos deitar. Incrível como eu me sentia em paz, leve. Conversamos um pouco e fomos dormir.

Hoje acordamos bem dispostos e viemos trabalhar.

Que Deus permita que nossos corações tenham lugar para a mudança que Ele tem para operar em nossas vidas.

Só por hoje me sinto feliz, levemente feliz!